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Episódio 10 - Wagner Belmonte entrevista Dr. Rodolfo Ramazzini

  • Editor Negócio da China
  • 8 de jul.
  • 11 min de leitura

Atualizado: 29 de jul.

A Indústria da Falsificação: um crime que parece inofensivo, mas custa bilhões ao Brasil


08 de julho de 2025


Neste episódio do Negócio da China, o apresentador recebe Dr. Rodolfo Ramazzini, advogado e presidente da Associação Brasileira de Combate à Falsificação, para um papo revelador sobre os impactos reais da falsificação no Brasil.


💣 Com dados alarmantes – como os R$ 471 bilhões perdidos por ano com produtos ilegais – o especialista desmonta a ideia de que comprar falsificado é um “crime menor”. De roupas e brinquedos a cigarros, bebidas e autopeças, o mercado paralelo alimenta o crime organizado, prejudica a saúde pública e mina a economia nacional.


🔎 O episódio mostra como o crime organizado sequestrou esse setor, aproveitando-se da baixa fiscalização, da impunidade e da omissão do Estado. A conversa também aponta soluções viáveis, como o uso de tecnologias de rastreamento e o engajamento do consumidor como fiscal.


📌 Destaques do episódio:


  • O papel da China como maior origem de produtos falsificados

  • Como o PCC e outras facções dominam esse mercado

  • A gravidade dos riscos à saúde (com casos de chumbo, coliformes fecais e até BHC em cigarros e vapers)

  • Por que a Receita Federal falha no combate

  • E o que você pode fazer para não ser cúmplice desse sistema



🚨 Um alerta necessário, direto e urgente sobre o que há por trás de uma “pechincha”. Assista e nunca mais olhe para um produto falsificado da mesma forma.








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Relógios, roupas, brinquedos, eletrônicos, perfumes, softwares, cigarros, bebidas. A gente vai falar um negócio da China, da indústria da falsificação. Será que usar o termo indústria da falsificação não é uma ofensa à própria indústria? Para bater um papo conosco sobre isso, está aqui o doutor Rodolfo Ramazzini, que é advogado, especialista em combate à falsificação, contrabando, especialista também em concorrência desleal e em espionagem industrial. Ele é presidente da Associação Brasileira de Combate à Falsificação. Ele lidera o maior escritório especializado da América do Sul na tentativa de coibir esse crime. Doutor Rodolfo, é um prazer tê-lo conosco. Muito obrigado pelo bate-papo. Dá para a gente estimar o tamanho do mercado de falsificação, se é que é essa terminologia correta?



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Primeiro, é um prazer estar aqui com vocês. O Brasil perdeu no último ano R$ 471 bilhões com contrabando e falsificação de produtos. Perdeu-se tanto em arrecadação tributária, quase R$ 100 bilhões. em perdas tanto em arrecadação tributária como em perda de faturamento das indústrias por causa desse mercado ilegal. Infelizmente, por mais que a gente venha incrementando as ações que a gente realiza em defesa da indústria e trabalha junto com as autoridades, o volume de produtos sócios vem crescendo ao longo dos últimos anos e isso causa sempre um prejuízo sério para a saúde e para a segurança dos consumidores.



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Doutor, por que esse valor é tão alto, esse montante? 471 bilhões de reais.



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Bom, em primeiro lugar, o Brasil é um grande consumidor de produtos falsificados. Isso se deve a diversos fatores. A alta carga tributária, que incide sobre os produtos legais no Brasil, faz com que as classes C, D e E não tenham poder de compra para comprar muitos deles e o apelo desse produto ilegal aumenta. Ele é barato porque ele é feito com matéria-prima de péssima qualidade, não paga imposto. E isso por si só já é um apelo para a população querer esse tipo de produto. Em segundo lugar, você tem um problema da porosidade das nossas fronteiras. No Brasil você tem 14 mil quilômetros de fronteira com 28 postos de fiscalização só. E se você pegar nossos portos de Belém até Rio Grande, Você não tem 3 mil agentes para fazer desembaraço de contêiner. Só em Rotterdam, na Holanda, você tem 3.200 agentes para fazer esse desembaraço. Então a fiscalização no Brasil é feita por amostragem ou quando tem alguma suspeita. Isso faz com que muita coisa errada entre no Brasil. E além disso tudo, ao longo dos últimos dez anos, aumentou consideravelmente também o volume de fábricas clandestinas dentro do território brasileiro. Tudo isso se deve aos altos impostos, a uma má política econômica do governo que enforca a indústria legal que paga imposto, E permite a entrada desses produtos ilegais no território nacional. Isso tudo causa um problema em termos de geração de riqueza, emprego, imposto. E o governo não tem como investir nisso, a não ser que ele mude essa roda de direção.



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Só trouxe um número pra gente, eu peguei aqui o celular pra fazer umas contas. 471 bilhões de reais dividido por 365 dá 1 bilhão 290 milhões de reais por dia.



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Perfeito.



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E dá 53 milhões de reais por hora. A grosso modo, a gente pode falar que por hora esse mercado da falsificação movimenta no mínimo um milhão de reais ou perto de um milhão de reais, para ser mais preciso.



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Exato. E o problema principal nisso tudo não é nem essa questão do prejuízo financeiro. O problema é que os produtos falsificados, na sua grande maioria, eles sempre vão prejudicar a saúde e a segurança do consumidor. Com exceção das roupas, que é um problema menor, não é que não é um problema, mas é um problema menor, porque a pessoa quando compra uma roupa falsa ela simplesmente dura menos, desbota antes e acabou. Todos os outros produtos solsticados, seja uma autopeça, um cigarro, uma bebida, um cosmético, um alimento, enfim. São produtos que são produzidos de qualquer maneira, sem parâmetro, e isso sempre vai causar um prejuízo grande para a saúde e para a segurança do consumidor. Então o nosso foco nessa briga é principalmente desmantelar essas quadrilhas e pegar essas fábricas clandestinas de produtos de consumo direto do ser humano. Você vê que a quantidade de fraudes, por exemplo, no ramo de alimentos, falsificação de azeite, falsificação de bebidas, falsificação de leite, de outros produtos, vem aumentando consideravelmente, principalmente depois que subiu o preço desses commodities. E a mesma coisa se aplica com o café, por exemplo, que subiu demais. Então, as quadrilhas de falsificadores, ao verificar que um setor da economia, qualquer que seja ele, está mal fiscalizado, tem pouca fiscalização, pouca legislação, e que aquele setor é um setor que tem um alto giro e um bom lucro, o crime organizado migra para esse setor e começa a falsificar esse produto. Isso aconteceu há cinco, seis anos atrás com o ramo de combustíveis, a entrada do PCC no ramo de combustíveis, depois o crime organizado entrou no contrabando de cigarro nas fábricas clandestinas de cigarro, E nos últimos dois, três anos, eles entraram com força no mercado de falsificação de bebidas, tanto de destilados como de vinhos.



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Cigarro, por si só, já é algo que deveria ser banido. Agora, cigarro falsificado, você não sabe literalmente quem fuma, não é o meu caso. Não sabe quem tá fumando.



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Nós mandamos analisar em laboratório esses cigarros que vêm do Paraguai e são fabricados em tabacaleiras clandestinas. Eles têm até seis vezes mais alcatreu e nicotina do que o máximo permitido pela Anvisa. resíduo de chumbo, zinco, pedaço de inseto, coliformes fecais e o fumo é cultivado com BHC, que é um inseticida altamente cancerígeno, proibido no Brasil há mais de 40 anos. Ou seja, é um problema de saúde pública. O mesmo se aplica a esses vapers que estão vindo da China hoje.



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Deixa eu chegar nisso. Isso é uma questão de saúde do adolescente, porque tem um problema no vapor. Isso é uma glamourização de tudo.



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Sim, é... Todos os estudos que vêm sendo apresentados pela Organização Pan-Americana de Saúde, pelo INCA, Instituto Nacional do Câncer, mostram que esse produto é altamente nocivo, que ele tem uma permissividade para o corpo humano 5, 10 vezes pior do que o cigarro legal. E fora o apelo que isso tem para o jovem, né?



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Nesse composto, doutor, nesse composto de 471 bilhões de reais, e desse rol imenso de produtos, para além do crime organizado, que nós já vamos falar. A China contribui com o quê? O que a China contribui no que diz respeito a essa indústria da falsificação?



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A China é o maior antro de falsificação do mundo. É um país que cresceu e se capitalizou vendendo muamba para o mundo inteiro. Hoje em dia eles têm marcas próprias em alguns setores, indústrias sérias em alguns setores, mas eles começaram a ganhar dinheiro e ganhar musculatura falsificando produto para o mundo inteiro. A China hoje representa cerca de 40% do volume total de produtos ilegais no mercado brasileiro. Eles são responsáveis por quase metade desse prejuízo. Você tem também as coisas que são feitas internamente, você tem o Paraguai, você tem outras fontes, mas a China sozinha representa metade desse volume de produtos ilegais. Como é que a gente divide essa conta? Os produtos que exigem uma sofisticação tecnológica maior para serem fabricados, maquinário mais pesado, usinagem, são feitos na China, chegam prontos nos nossos portos e fronteiras. Já os produtos que não exigem tamanha sofisticação tecnológica e maquinário, como é o caso de roupas, bebidas, sapênis e outros, esses são falsificados localmente. Então o que acaba vindo da China é o eletroeletrônico, uma autopeça, são esses materiais elétricos, produtos compostos.



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Falta fiscalização?



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Além de faltar fiscalização, tanto por parte do governo federal como por parte dos governos estaduais, os poucos agentes que existem são abnegados, trabalham muito, nos ajudam nas operações, seja com a Polícia Civil em São Paulo, nos outros estados, seja a Receita Federal, a Polícia Federal. Mas falta a vontade política de investir mais, contratar mais gente, dotar esse pessoal de equipamentos para poder trabalhar melhor. Essa vontade política não existe. E hoje nós temos também um comando na Receita Federal que é desastroso. O secretário está em pé de guerra com o sindicato dos auditores, ele não reconhece o plano de carreiras e salários dos auditores, não contrata mais auditores e isso causa um descontrole das nossas fronteiras. Ao invés dele investir e capacitar esses abnegados agentes, ele cria dificuldades para a atuação desses agentes e eles acabam também revendo as alíquotas tributárias, que já são altíssimas, para cima ao invés de baixar imposto sobre o setor produtivo e cobrar imposto de quem não paga.



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Dr. Rodolfo, quando a gente tá falando em falsificação, a gente não tá falando não do ponto de vista jurídico, não do ponto de vista do crime, mas a gente não tá falando no inconsciente coletivo num crime que Tá tudo bem, é um crime menor?



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Sim, muita gente entende dessa maneira, infelizmente. E aí, essa pessoa acaba só caindo na real quando ela descobre que, literalmente, o barato sai caro. Porque esses produtos são feitos fora de parâmetro, com matéria-prima de baixa qualidade, e eles vão sempre lesar a saúde e a segurança do consumidor. Para dar um exemplo rápido, o brinquedo chinês. Esses brinquedos são pintados com tintas ricas em chumbo. As crianças põem esse produto na boca, se contaminam. Podem se contaminar com mercúrio também. Você pega medicamentos falsificados oriundos da China, você vai fazer uma análise laboratorial, não tem a quantidade de princípio ativo que deve ter, não tem a equivalência que precisa ter para o produto funcionar. Isso dentre outros, ou seja, eles mandam produtos de péssima qualidade para o mundo inteiro, se locupletam, dessa maneira atrapalham o desenvolvimento dos países que recebem esses produtos, da indústria desse país, a geração de emprego e riqueza. Nós não estamos falando aqui de um problema de concorrência de empresa A com B. Nós estamos falando aqui de algo que não recolhe tributo, que incentiva o crime organizado, que atrapalha o crescimento do país, atrapalha a geração de emprego e ainda expõe a risco todos os nossos consumidores brasileiros.



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E a Receita Federal? O senhor fez uma crítica, o senhor disse que a Receita Federal não faz o bom combate, se eu entendi direito, é isso?



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Os bons agentes que lá sempre trabalharam continuam tentando fazer esse bom combate, mas a administração atual não faz o trabalho da maneira que deveria, ou seja, ela não apoia os auditores, Ela não investe em tecnologia, em rastreabilidade para segurar isso. Ela não faz os movimentos que deveria fazer. Pelo contrário, ela pensa em aumentar imposto sobre os poucos que pagam imposto do setor produtivo, criando um ambiente para uma concorrência desleal maior ainda e não faz os investimentos em tecnologia com a rastreadilidade segura que é uma tendência mundial para combater o mercado ilegal e fica postergando medidas que já deveriam ter sido adotadas há mais de 10 anos para que esse combate fosse feito de maneira mais efetiva. Só para complementar, os auditores que estão nas fronteiras são abnegados, os dos portos e aeroportos. Só que falta gente, falta vontade política, falta material e eles não conseguem fazer milagre com a quantidade baixa de agentes que eles têm e com essa falta de apoio do órgão central em Brasília.



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Tá, vamos lá, o problema tá posto e ele tá claro. A dimensão do problema, nós não chegamos no crime organizado. A dimensão do problema tá posta. Qual é a solução?



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A solução é aumentar as ações de inteligência que associações como a BCF fazem, para levar esses trabalhos para as mãos das polícias já, com todo mundo identificado, os alvos, quem são, aonde estão, quais são os produtos. é aumentar o apoio às autoridades nas ações de law enforcement e instituir junto a isso uma rastreabilidade de produção, ou seja, agregar tecnologia nos produtos originais fabricados legalmente para que eles sejam facilmente identificáveis, tanto pelo consumidor quanto pelas autoridades, que se possa diferenciar isso do produto ilegal de maneira mais rápida, efetiva, e para isso é só agregar tecnologias que já estão disponíveis, dentro da Casa da Moeda do Brasil, para que a gente possa colocar isso em cigarro, bebida, autopeça e outros produtos que são alijados pelo mercado ilegal, como os medicamentos, agora as canetas de emagrecimento também, para que dessa forma o consumidor possa se tornar um partícipe das ferramentas de fiscalização. Nós queremos que o consumidor, com o celular, consiga botar no produto e identificar na hora que aquele produto é legal ou ilegal, ajudando a Receita a criar um mapa de calor de onde estão os produtos ilegais para direcionar esforços, direcionar medidas para combater esse mercado ilegal. Para isso acontecer, falta vontade política. Infelizmente, essa é a briga da BCF junto às autoridades.



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Briga da BCF e a questão do crime organizado. O PCC, os passos que a gente tem aqui no Rio de Janeiro, o comando vermelho, as milícias, e aí?



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Essas facções criminosas sequestraram esse mercado. Como assim, você vai me perguntar? Em primeiro lugar, o PCC foi para as fronteiras e matou as quadrilhas que trabalhavam em contrabando de cigarro, de bebida, defensivo agrícola. E tomou conta disso. Hoje, quem manda nesse contrabando nas áreas de fronteira é o primeiro que manda capital. Além disso, eles fizeram o quê? Instituíram fábricas clandestinas, principalmente de cigarro e bebida, em estados-chave da federação, como Rio, São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Goiás, para facilitar a distribuição desses produtos ilegais dentro do Brasil. São já inventores do crime, falsificaram produtos dentro do território brasileiro, Essas quadrilhas se aproveitam dessa baixa fiscalização e das penas pequenas para quem corre nesse tipo de crime, para dessa maneira maximizar os lucros que ele já obtém com tráfico de droga e arma. Essa entrada do crime organizado nesses setores de economia, onde a fiscalização não é eficiente, mostra que o Estado precisa fazer alguma coisa. Porque daqui a pouco nós não vamos ter segurança de consumir que seja um alimento, que seja uma bebida, que seja uma autopeça. Por quê? Porque o crime organizado viu nisso uma oportunidade de triplicar, quadruplicar o que eles faturam com as outras modalidades criminosas. E infelizmente hoje, Essa estrutura do crime organizado empresarial já está funcionando em diversos setores da economia, com fábricas ilegais e com grandes redes de distribuição desses produtos pelo território brasileiro.



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Legal. Dr. Rodolfo Ramazzini, obrigado. Valeu pelo bate-papo. É bom a gente pensar que não existe produto falsificado que seja principalmente inocente. Cada vez que a gente compra um produto de segunda linha, com uma vantagem expressiva, com uma pseudo marca, que não é uma marca real, é um sistema que está roubando o Brasil, atingindo a lei, afrontando a lei e, principalmente, minando a confiança do consumidor, que não vai ter um produto cuja confiabilidade é padrão. Obrigado pelo bate-papo.



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Muito obrigado, é um prazer estar aqui com vocês. Eu gostaria só de deixar o disc Denúncia da ABCF.



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Por favor.



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Funciona no 011-3106-5149 ou no e-mail denuncia-abcf.org.br.



00:17:15 SPK_1


Muito obrigado. Está aí no seu GC, 011-3106-4159. Vamos repetir.



00:17:23 SPK_2


3106-5149 ou no e-mail denuncia-abcf.org.br.



00:17:31 SPK_1


3106-5149. 3106-5149. Obrigado.



00:17:39 SPK_2


Obrigado. Foi um prazer estar aqui com vocês.



00:17:41 SPK_1


Valeu. A gente volta numa próxima oportunidade com mais um tema importante.



 
 
 

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