Episódio 2 - Wagner Belmonte entrevista Fausto Pinato
- Editor Negócio da China
- 3 de jul.
- 11 min de leitura
Atualizado: 29 de jul.
Brasil, China e o Futuro da Indústria Nacional
03 de julho de 2025
No ar o Negócio da China! Nesta edição especial, recebemos o deputado federal Fausto Pinato, presidente da Frente Parlamentar Brasil-China e da Comissão dos BRICS. Em um bate-papo direto e provocador, ele expõe os bastidores da relação comercial entre Brasil e China, os impactos da indústria chinesa no mercado brasileiro e o dilema entre proteção da indústria nacional e o apelo do consumo barato.
🌏 Por que a picanha custa menos na China do que no Brasil?
🚢 Como a China pode ajudar (ou ameaçar) a reindustrialização brasileira?
📉 Estamos trocando empregos qualificados por “brusinhas” de R$10?
Pinato defende o pragmatismo acima das ideologias e alerta: ou o Brasil sabe o que quer da China, ou continuará perdendo espaço — e empregos. Um episódio essencial para quem quer entender os desafios econômicos do país no cenário global.
📺 Assista agora e repense o que é, de fato, um bom Negócio da China.
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No ar Negócio da China, e hoje uma edição especial, a gente vai conversar com o deputado federal Fausto Pinato. Ele é presidente da Comissão Parlamentar Brasil-China e dos BRICS. O deputado Fausto Pinato, do PP de São Paulo, está no terceiro mandato na Câmara dos Deputados. A gente vai bater um papo com ele sobre o que está em jogo em relação a esse contexto bilateral Brasil-China e o Brasil no cenário dos BRICS. Deputado, é um prazer tê-lo conosco. Queria agradecer pela presença, queria agradecer pela chance de conversarmos. As relações Brasil-China. A China hoje, em que pese o fato de ter 1 bilhão e 300 milhões de habitantes, até um pouquinho mais, a China já tem uma renda per capita até maior do que a do brasileiro. Mas o que me chamou a atenção foi que num outro programa que a gente fez aqui, deputado, a picanha brasileira na China chega a custar metade do que ela custa aqui no Brasil. Por quê?
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Olha, essa informação eu não tenho. A informação que eu tenho é que a China, hoje sem dúvida, é que deixou o agronegócio milionário. Sabemos que a balança comercial é superabitária, principalmente por causa da China, que é a maior compradora de commodities e a maior compradora de carne. Já nesse sentido de picanha, essas coisas, eu não conheço o mercado chinês. O motivo dessa tua informação, que eu preciso até checar isso.
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E essa informação que eu tô dando pro senhor, eu recebi de um professor que dá aula lá na China, que é professor de Direito Econômico, um brasileiro que dá aula lá na China. Mas depois a gente volta nela. Deputado, a frente...
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Eu tenho minhas dúvidas, porque eu já fui pra China, inclusive, comi em churrascaria. É mais ou menos o mesmo negócio. Mas enfim, eu não vou discutir, porque às vezes pode ser a região que eu fui.
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Deputado, a Frente Parlamentar Brasil-China tem concentrado a atuação dela em quais preâmbulos? Quais são as diretrizes básicas que o senhor tem a concentrar a atuação parlamentar do senhor nesse sentido?
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Olha, eu fui presidente da Comissão da Agricultura na época do... agora da Tereza Cristina, tive uma atuação muito forte na época do governo Michel Temer, que o então ministro da agricultura era o então ministro Brairo Maggi. A nossa função como frente parlamentar, principalmente a gente que é ligado ao agronegócio, como a gente vê pulverização, essa questão ideológica de esquerda e direita, é buscar o pragmatismo. Eu briguei muito pela questão da China, até porque uma ala muito ideológica de direita tem que saber dividir. Eu não sou comunista e nem comparto com comunista. mas o Brasil não está podendo escolher parceiro comercial. E quando a gente pega a balança, a gente vê que a China, sem dúvida, é a maior parceira comercial do Brasil. Agora, a China sabe o que é do Brasil e o Brasil não sabe o que é da China. Nós precisamos organizar, o governo precisa se organizar melhor, se modernizar melhor, quando eu falo de todos os governos. Porque o agronegócio é importante, muito importante. É importante para a balança comercial, agora não é menos importante, que a China também, por enquanto, depende muito da gente. Porque eu pergunto, o que a China faz com tanta soja? Faz o farelo, faz a carne de soja. O que ela faz com o silício? Faz a placa solar, com minério de ferro, vai lá e faz o aço. E vende isso para o mundo inteiro, para o mercado inteiro, gerando emprego, porque ela agrega. O que nós precisamos entender é o seguinte, O Brasil é muito rico em minério, muito rico no agronegócio. Nós não precisamos desmatar mais, ter condições de potencialização ainda mais agora. Não é menos importante que o Brasil precisa reindustrializar. E quando eu vejo a China, eu vejo um papel que ela pode encurtar esse caminho. Ela está muito evoluída na questão de tecnologia, seja desde a indústria farmacêutica, a robótica, a questão industrial. Então seria importante se organizar melhor e fazer uma parceria. Lógico que nós podemos continuar vendendo produto cru para ele, mas não é menos verdade. A gente poderia buscar tecnologia e agregar valor dentro do Brasil para atender o mercado interno. Com isso a gente geraria empregos qualificados, que através da indústria tem muitos empregos qualificados, e também atender o mercado da América Latina. Mas para isso precisa organizar o setor produtivo, o setor industrial, com apoio do governo. Porque nós ficamos nessa retórica com o agro. O agro é importante, volto a dizer. Mas o Brasil, na década de 80, a China vinha aqui ver tecnologia e virou uma potência industrial. E o Brasil praticamente perdeu essa potência de indústria.
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O deputado federal Fausto Pinato está no terceiro mandato. Ele é de 1º de junho de 1977, tem 48 anos, é de Fernandópolis e é advogado. Deputado, o senhor usou uma metáfora que é muito interessante. A China sabe o que ela quer do Brasil. Quem não sabe o que quer da China é o Brasil. O que o Brasil... Vou usar o futuro do pretérito aqui com o senhor. O que o Brasil deveria querer da China?
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O Brasil deveria, sem dúvida nenhuma, buscar tecnologia. tecnologia, deveria taxar qualquer produto que entre no Brasil. Eu vejo a questão das blusinhas. A nossa indústria, por exemplo, de tecido e tal, se perdeu nisso. É culpa da China? Não. É culpa nossa, que em vez de deixar vir com imposto barato, seria taxar bastante e atrair para fazer parceria com o Brasil e proteger o empresário brasileiro. porque gera emprego. A China é muito agressiva, agora não é menos verdade, que é que nós temos que deixar as questões ideológicas de lado. Hoje nós temos uma esquerda que ainda vê Cuba como um sinão de liberdade, o povo passando fome, e nós vemos a outra direita liderada pelo Bolsonaro batendo continência pro Trump, sendo que na verdade os Estados Unidos junto com a Europa que dão mais incentivo para os seus agricultores que concorrem com nós diretamente no etanol, na soja, na carne. Então é importante deixar essas ideologias de lado e ser pragmático. Nós precisamos ter a pragmática, precisamos de um líder que seja pragmático. O Brasil não pode escolher parceiro comercial. Nós temos que defender questão ideológica com o interesse do país. Eu, por exemplo, eu vou defender a democracia sempre. Eu gosto dos Estados Unidos, acho um modelo bacana de democracia, mas não é menos verdade que nesse ponto do ar o negócio é concorrente direto nosso. O Brasil não tem que entrar em picuinha ideológica que negócio de esquerda e direita muitas vezes atrapalha o interesse do país. Nós precisamos ter um líder pragmático que olhe pra frente e a China tem como encurtar o caminho do Brasil. Por enquanto, porque a China também está investindo muito na África. Daqui a pouco, se ela conseguir suprir com menos custo na África, nós vamos perder esse mercado.
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Não há dúvida, deputado, do que o senhor falou. O senhor conhece os BRICS, o senhor está na frente parlamentar que versa sobre eles. Brasil, Rússia, Índia, China e South Africa, a África do Sul. Então a gente tem aí um panorama dessas nações que são nações emergentes à luz de um protocolo econômico que a gente chama de demanda reprimida, de potencial de gerar negócios, de potencial seja para o mercado interno, seja para as exportações. A China tem mudado muito. o parque industrial brasileiro, sobretudo na indústria automotiva. Mas os efeitos sobre a indústria têxtil aqui no Brasil são ainda muito danosos. A gente fez uma entrevista aqui que mostrava o seguinte, o nosso estado, o estado de São Paulo, Tinha, em 2005, cerca de 400 mil trabalhadores na indústria têxtil. Hoje ele tem 150 mil trabalhadores na indústria têxtil como um todo, na cadeia. E muito disso vem desse processo de sites ou de vendas como a Shine faz, tudo mais. Como é que a gente deve se organizar para ter um modelo que pode vir a ser predatório, sob o pretexto de oferecer produtos mais baratos para o consumidor, ao mesmo tempo sucateando a indústria nacional?
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Primeiro que a indústria nacional deve se organizar através das suas associações e estar alertando o governo disso. E ter um governo que se antecipe a esses movimentos. Quando perceber que está entrando muito produto, é igual um dia eu brinquei, esse dia para trás o governo quis dizer que aumentou 14% a compra de veículo. Eu falei, mas eu quero ver quantos postos de trabalho gerou, porque se a gente não taxa os carros elétricos, Nós vamos matar a nossa indústria, que faz carro a gasolina, que faz carro a diesel. Mas o carro elétrico é o futuro, é o futuro. Então nós temos que tentar trazer parceria, como veio a B&G na Bahia, como tem a GWM em São Paulo, para eles fazerem esse carro aqui. Vale a pena. Ao contrário, não. Porque nós acabamos dando a mão de obra brasileira, consequentemente gerando um porque nós precisamos gerar emprego de qualidade. Vejo que o governo, através do Ministério da Fazenda, que tem como olhar as questões de exportação, importação, a balança comercial, qual que é o setor que está entrando mais, monitorar isso. Nós temos que ter uma inteligência para poder agir preventivamente. Isso sim é ter maestria e pensar no interesse do país.
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Quando o senhor fala gerar emprego de qualidade, o senhor tocou aí no exemplo da GMC e da BID na Bahia, na antiga fábrica da Ford em Camaçari. Quando o senhor cita esses exemplos, analogamente, e se a gente fosse para a indústria têxtil, por exemplo, com essa concorrência predatória, Eu brinco aqui na produção falando o seguinte, chega a cueca aqui no Brasil por R$1,00 e ela é vendida por R$10,00. E a indústria brasileira não consegue fazer uma cueca que custe menos que R$15,00. Então já começa com um gap aí de 50%, só na questão da precificação. Como é que a gente enfrenta esse fenômeno, deputado?
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Olha, primeiro que o Brasil tem uma carga tributária muito grande. Segundo que a China, lá na China... O pessoal fala da esquerda, mas lá o sindicato não faz greve, o pessoal tem mais obrigação do que direito. E é muito bonito, às vezes os Estados Unidos, a própria Europa, criticar a China, mas eles fizeram a China virar uma gigante. Ao usar essa mão de obra barata, eles começaram a fabricar tudo lá, ou seja, façam o que eu falo, mas não fazem o que eu faço. E a China foi olhando, foi copiando, foi se modernizando, foi investindo em pesquisa, em qualificação e copiou e às vezes até melhorou a questão de maquinário, de produção. Eles têm, como você disse aí, cerca de 1 bilhão e 400 milhões de habitantes. É um país agressivo na questão do comércio, buscando preços. Agora, não é menos verdade Eu vi uns discursos, mas a brusinha chega a dois reais, dez reais, aqui no Brasil custa setenta, tudo bem, nós temos que olhar essa questão tributária que eu acho que nós temos que melhorar. Agora, não é menos verdade que essa desculpa de ser mais barata que atende o pobre vai tirar milhões de pessoas, milhares de pessoas de postos de trabalho. Então, o que é melhor? Manter o posto de trabalho? Às vezes um produto um pouco mais caro por causa da carga tributária, isso não é culpa do empresariado, mas sim da questão tributária. Ou deixar comprar mais barato e criar milhares de desempregos. É que, na verdade, um lado só pensa em armas, só pensa em ideologia vazia, e o outro lado dá até a impressão que quer muita gente desempregada, que através do Bolsa Família e dos auxílios, manter essa pessoa amarrada. É a política de pão e circo, é o que eu penso.
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Pra gente encerrar, deputado, eu sei que o senhor tem horário. E a questão tributária, deputado? Quando a gente compra uma blusinha da Shine, a gente tá, de certa forma, gerando receita que não é pro Brasil, porque a estrutura desses players globais, Shine e outras grandes que estão aí, a estrutura é ter escritórios baixíssima empregabilidade no Brasil, baixíssima empregabilidade e gerar divisas para o exterior, não é isso?
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É, vamos aqui, você tocou um pouco, muito sensível. Eu, por exemplo, sou presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, defendo a parceria com a China, acho que a China é importante para o desenvolvimento do país, mas nós temos que saber o que nós queremos. Por exemplo, eu sou contra estrangeiro comprar terra no Brasil. Nós perdemos toda a cadeia produtiva em breve. Você está tocando num ponto aí que não é só isso, não é só de vender a buzinha. O próprio setor logístico de entrega já tem empresas chinesas aqui dentro. O que quer dizer? Ele vende lá, ganha também aqui, entregando esse produto, prejudicando até os correios, está com um prejuízo violento. O que acontece? Gente, é só fazer conta. Ninguém inventou a rota. Vamos copiar o que os outros fazem. Por exemplo, recentemente nós tivemos uma briga agora de tarifa pra lá, tarifa pra cá. Nós temos que defender o povo brasileiro, o empresário brasileiro. Bem ou mal, cada um no seu quadrado. É mais caro, mas tá gerando emprego. Mas é mais caro por quê? Por quê? Porque aqui também nós temos muitos direitos trabalhistas. Temos sindicatos. E aqui eu não tô criticando. Na China não tem isso. Se tem, ninguém grita lá.
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Mas aí a gente cai na armadilha da barreira protecionista, deputado?
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Olha, não é armadilha da barreira protecionista, mas não é menos verdade que nós temos que proteger a nossa indústria. Eu voltei a falar, na década de 80, a China não era igual ao Brasil, os países não eram iguais ao Brasil. O Brasil também, na década de 60, 70, teve um monte de indústria automobilística, indústria do CET, principalmente do ABC, e nós estamos perdendo isso, né? Nós temos que saber dosar, ser justo agora. Podemos até deixar entrar uma parte e tal, agora não é menos verdade, que entre o interesse do Brasil e da China fica o interesse do Brasil.
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Tá bom. Temos aí um outro exemplo também que vale a pena a gente voltar, que é o da 99, né? Empresa chinesa operando nos táxis em algumas das grandes capitais do país, né, deputado?
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Chinês é muito agressivo, são muito focados nesse sentido. Agora, cabe ao governo brasileiro e aos empresários brasileiros organizar, a gente pode até virar sócio, parceria, algumas coisas, porque a gente tem a tecnologia, mas nós não podemos, de certa forma, ficar totalmente refém e não gerar, deixar de gerar emprego.
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Deputado federal Fausto Pignato, terceiro mandato, membro da Comissão de Comunicação da Câmara, presidente da Comissão Brasil-China e da Comissão dos BRICS, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Foi um prazer falar com o senhor, a gente espera voltar ao assunto tão logo a gente tenha mais delimitado esse processo pra preservar os interesses da indústria nacional e não submetê-la a uma concorrência predatória.
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Eu que te agradeço, Magno Belmonte, queria agradecer que a esse grande jornalista, ao programa Negócios da China e nós sempre de maneira pragmática procurando ser sincero e buscando o interesse do povo brasileiro.
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Obrigado, um abraço deputado. Esse é um assunto muito importante porque ele envolve um hiato. De um lado, aqueles que pretenham essas barreiras comerciais para preservar os interesses da indústria. Do outro, o consumidor que se vê encantado com promoções e com a oferta de produtos que chegam a ele por um custo muito acessível. Como conciliar e como tratar essa dicotomia de uma tal forma que o Brasil não perca recursos e, ao mesmo tempo, ao perder recursos, vai perder emprego, vai perder competitividade em escala global e, ao mesmo tempo, como não onerar o consumidor em meio a isso. Valeu, deputado Fausto Pinato, valeu a você que acompanhou o Negócio da China. A gente volta num outro dia com outro tema.




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